OS VERDADEIROS HERÓIS DO NOSSO LOUCO TEMPO
Queria nem perceber algumas coisas, mas...
Estar
em uma janela, debruçado sobre ela, olhando a rua, o movimento das
pessoas indo e vindo, o que vestem, o que levam nas mãos, nada disso é mudo para um poeta. Tudo isso fala alguma
coisa em seu espírito observador.
E é assim
que, num simples observar de uma rua qualquer, um poeta descobre que
ainda existem heróis andando pelo meio das ruas, pelo meio das praças,
das ruas movimentadas das metrópoles, mesmo nesses
tempos maliciosos de hoje em dia.
Esses
heróis despertaram para a vida heróica assim... repentinamente! Alguma
coisa os incitou à selvagem guerra por uma vaga no mercado de trabalho.
Inicialmente talvez incitados por alguma
pressão sofrida em casa; talvez porque cansaram de pedir dinheiro aos
pais e receber menos do que queriam , então resolveram sair em busca do
seu próprio dinheiro; outros simplesmente porque descobriram uma moça
que amam e querem poder dividir sua vida com
ela, e o trabalho tornou-se um caminho necessário. Enfim, não importa
tanto o motivo, mas quando esses jovens resolveram ir em busca do seu
próprio trabalho, ao conseguir iniciá-lo e se firmarem nele, tornaram-se
heróis, com direito a derramar suor na batalha
como aqueles heróis que aprenderam a ver somente nos filmes, pois agora
também batalham no empurra-empurra dos metrôs, das vans e dos ônibus
cheios, deixando também ali seu suor; sofrem enquanto sonham com o carro
que um dia pretendem ter, símbolo de autonomia
e liberdade. Alguns, com uma vaidade maior, planejam ter um motor bem
potente, uma máquina! Outros se satisfariam com qualquer 1.0, mas
enquanto sonham, todos eles trabalham, suam, e isso os torna admiráveis
heróis nesse tempo de cruel e sangrenta disputa
por uma vaga no mercado de trabalho.
Pensando assim, olhando para trás me orgulho do herói que um dia fui,
ainda jovem, num tempo em que sequer havia celular, e os compromissos
eram honrados com pontualidade. Hoje se usa o celular
para se tentar explicar porque não se chegou a um compromisso ou o
motivo do atraso de 2, 3 horas ou mais! A evolução tecnológica parece
significar o retrocesso da eficiência humana!
Conseguir se encaixar no mercado de trabalho hoje, ja é uma graça
divina! Com tanta concorrência, com tanta diversidade, com o fantasma da
globalização batendo à nossa porta exigindo que o mais
simples recepcionista seja bilíngüe, e que um simples gari possua 2º
grau completo, feliz daquele que consegue um trabalho digno hoje em dia
sem as qualificações exigidas pelo padrão ISO 9002 ! rs!.
Nas
grandes cidades, esses heróis dos quais falo sofrem horrores para chegar
ao seu local de trabalho, começando pelo ritual de acordar para a vida
2, 3 ou 4 horas antes da jornada, para depois
encarar o trânsito neurótico das metrópoles, e ir chacoalhando dentro de
um transporte urbano. Já nas pequenas cidades, sofre pela distância que
deverá andar a pé até chegar ao seu “campo de batalha”!
Mas são heróis porque... TRABALHAM!
Um poeta disse, numa música, no tempo da minha infância:
“Sem o seu trabalho, um homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata”
Nunca esqueci desse texto.
Jovens
que trabalham não são apenas o orgulho de seus pais. São a esperança de
suas esposas, noivas ou namoradas. Jovens que trabalham são o parâmetro
a ser seguido pelas crianças que os observam.
Devem ser, na aplicação mais pura do termo, o orgulho de si mesmos, por
terem conseguido entender que viver em sociedade significa justamente
entender a importância do trabalho, e lutar por ele.
Existem, é claro, muitos heróis
em potencial, inconformados por não conseguirem se inserir no mercado
de trabalho. Se qualificam, estudam, e muitas vezes esbarram na
exigência patética de uma “experiência” que nunca
terão se alguém não lhes der um primeiro emprego, uma primeira chance.
Mas apesar de toda sua indignação, continuam tentando, buscando e por
isso nesse momento são aprendizes de heróis, o que certamente serão um
dia.
São eles que serão ansiosamente
aguardados por suas esposas no fim do dia Festejados por seus futuros
filhos ao abrirem a porta de suas casas no final da tarde, ou até em
noite avançada.
São eles que serão chamados de
“senhor” pelos porteiros e manobristas. São eles que muitas vezes
entrarão por suas portas trazendo compras em alguma sacola do mercado
para um jantar especial, dando cores vivas e um
tom alegre ao convívio em família. A despeito de toda a safadeza que
impera na política que nos rege, são esses jovens heróis que pagarão os
tributos e perpetuarão o trabalho como eterna atividade digna de honra e
proteção das leis.
Se alguém acha que é ingênuo,
pueril, enxergar esses jovens como heróis, veremos se não me darão
razão, quando eu lhes disser o que é exatamente o oposto desses jovens
sobre os quais falei, ou seja, aqueles que caminham
em sentido contrário aos que chamo de heróis. O seu lado oposto são: os
preguiçosos; os dorminhocos; os acomodados”. Estes não são guerreiros.
São os fracos de vontade. O oposto dos heróis, pois não trabalham. Pelo
contrário, tem “horror” ao trabalho!
Serão os futuros “come-e-dormes” da vida, esperando a morte chegar com a boca escancarada cheia de dentes (ou mesmo sem eles!).
Então, senhores, ao verem algum
jovem andando apressado pela rua; portando sua pasta, vestindo roupa
modesta ou mesmo de terno e gravata; pilotando sua motocicleta de
entrega ou simplesmente andando apressado para pagar
contas que nem são suas; ou cumprindo uma ordem do patrão; ou mesmo que
os veja em algum restaurante almoçando em seu sagrado momento; ainda que
na alegre e festiva companhia de amigos, se aparentam ter entre seus 16 a 30 anos e trabalham,
merecem nosso respeito. Brinde-os com um sorriso, honre-os com um
singelo e leve baixar de cabeça. Neste mundo sujo e injusto, nesta
sociedade selvagem e sem decência, estes jovens, senhores, são os nossos
verdadeiros heróis.
Autor: Sérgio Lopes
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